A alimentação é fundamental para uma gestação saudável, ela é responsável por fornecer nutrientes e substratos para um desenvolvimento e crescimento fetal adequado e para manutenção da saúde materna antes, durante ou após o parto. Antes disso, a alimentação pode auxiliar na preparação do corpo feminino, aumentando as chances de uma gestação.
Dito isso, muito tem-se estudado a respeito de padrões alimentares e dietas que contribuam para fertilidade. Em uma meta-análise publicada na Nutrients no final de maio de 2023, foram analisadas quatro dietas: dieta mediterrânea, diretrizes dietéticas holandesas, dieta ProFertility e a Fertility. O objetivo do estudo foi avaliar o efeito de diferentes padrões alimentares nos resultados de fertilidade em populações que concebem espontaneamente e aquelas que requerem tecnologia de reprodução assistida.
O estudo mostrou que a adesão à dieta mediterrânea foi positivamente associada a melhores taxas de fertilidade, sendo a mais promissora para mulheres tentantes. O padrão alimentar mediterrâneo vem sendo muito estudado e elucidado em diversas condições de saúde, trata-se de uma alimentação com alto consumo de frutas, vegetais, peixes, nozes, gorduras saudáveis e baixo consumo de carnes e gorduras não saudáveis, sendo usado como tratamento e prevenção de diversas condições.
Deve-se ressaltar que uma metanálise reuni os artigos já publicados sobre determinado assunto seguindo critérios pré-estabelecidos. Dessa forma, a Profertility por ser um padrão de dieta mais recente ainda não possui um banco denso de estudos publicados se comparada a dieta mediterrânea. Ambas as dietas possuem um padrão alimentar similar, rico em compostos bioativos, nutrientes e antioxidantes. A diferença se faz na indicação do consumo de alimentos com menos pesticidas e agrotóxicos e o uso de suplementos dietéticos pela dieta ProFertility.
Para entender melhor, podemos olhar um estudo de coorte prospectiva publicado em 2019 na revista Am J Obstet Gynecol cujo objetivo foi avaliar a relação entre a adesão pré-tratamento a vários padrões alimentares e os resultados das tecnologias de reprodução assistida. Foram analisadas as dieta da fertilidade, dieta mediterrânea, dieta ProFertility e o índice alternativo de alimentação saudável 2010 (aHEI-2010).
O estudo conclui que a maior adesão a uma dieta ProFertility, caracterizada por maior ingestão de ácido fólico suplementar, vitamina B12, vitamina D, frutas e vegetais com baixo teor de pesticidas, grãos integrais, frutos do mar, laticínios e alimentos à base de soja e menor ingestão de frutas e vegetais com alto teor de pesticidas, fornece maiores chances de gestação. O mesmo estudo traz que a dieta mediterrânea também foi associada ao aumento da probabilidade de gravidez.
Dessa forma, podemos concluir que a dieta ProFertility para mulheres tentantes também pode ser uma estratégia interessante, principalmente por agregar as recomendações em relação a diminuição da exposição a toxinas ambientais, uso de produtos orgânicos e a suplementação dietética adequada.
Outro ponto em comum nos dois artigos é o padrão de dieta ocidental que mostrou-se prejudicial para a fertilidade. A dieta ocidental é caracterizada pelo consumo de alimentos industrializados, refinados, açucarados, processados e ultraprocessados como os fast foods, lanches, refrigerantes e carnes com alto teor de gordura. Todos esses alimentos contribuem para um padrão mais inflamatório e menor oferta de nutrientes, o que pode influenciar de forma negativa para o funcionamento de diferentes sistemas, entre eles o sistema reprodutivo. Nos estudos, a adesão a esse tipo de dieta levou a queda nos parâmetros de fertilidade.
Por fim, podemos extrapolar todos esses achados para gestação, ou seja, ambas as dietas, mediterrânea e ProFertility, podem contribuir para uma gestação saudável, por terem um carácter antioxidante, rico em nutrientes e compostos bioativos. Entretanto, a ProFertility ainda seria a mais promissora já que recomenda uma alimentação livre de toxinas ambientais e o uso de suplementos, que podem auxiliar no processo de placentação, fundamental para o desenvolvimento e crescimento fetal, prevenir complicações gestacionais, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, evitar deficiências nutricionais, atuar na programação metabólica, garantir a saúde materna, entre outros.