O glúten, uma proteína encontrada em cereais como trigo, centeio e cevada, tem sido objeto de estudos e debates em relação à sua influência na fertilidade e em problemas relacionados à gestação. Há evidências que sugerem que o glúten pode contribuir para a infertilidade e aumentar o risco de abortos espontâneos em mulheres que sofrem de doença celíaca, uma condição autoimune em que o sistema imunológico reage ao glúten de forma prejudicial. Mulheres com doença celíaca que seguem uma dieta isenta de glúten parecem apresentar um risco semelhante de infertilidade e resultados adversos na gravidez em comparação com a população em geral. No entanto, é importante notar que a remoção do glúten da dieta é essencial para o tratamento da doença celíaca e a melhoria da saúde geral dessas pacientes.
Embora não tenha sido encontrado um vínculo direto entre a ingestão de glúten e a concentração de hormônio antimülleriano (AMH), hormônio utilizado para estimar a reserva ovariana, existe uma relação entre níveis diminuídos de AMH e a doença celíaca. O AMH é um marcador importante da reserva ovariana e, quando diminuído, pode afetar a fertilidade.
Além disso, a deficiência de macro e micronutrientes poderia ser a razão para problemas de reprodução na doença celíaca. Os elementos e vitaminas com deficiência mais comum nesta condição estão ferro, zinco, cálcio, vitamina D, vitamina B12 e ácido fólico. Menor concentração de zinco plasmático nas mulheres está correlacionada com maior tempo para gravidez. Deve-se ressaltar que o zinco é um elemento importante para a boa qualidade do sêmen. Assim, pode-se levantar a hipótese de que a doença celíaca também impacta a fertilidade do homem.
Além disso, a dieta isenta de glúten mostrou ser benéfica para mulheres que sofrem de endometriose, uma condição em que o tecido que normalmente reveste o útero cresce fora dele, causando dor e complicações. Estudos relataram uma redução significativa na dor em até 75% das pacientes com endometriose que seguiram uma dieta sem glúten.
Para mulheres que sofreram abortos espontâneos e apresentam fatores imunológicos, como a síndrome do anticorpo fosfolípide, a restrição de glúten parece ser benéfica. No entanto, é importante lembrar que a decisão de mudar para uma dieta isenta de glúten, sem um diagnóstico de doença celíaca ou outra condição dependente do glúten, a fim de melhorar a fertilidade ou evitar distúrbios ginecológicos e obstétricos, pode não ser apropriada. Isso ocorre porque a remoção do glúten pode resultar em uma redução na qualidade geral da dieta, levando a um maior consumo de farinhas refinadas e uma ingestão mais baixa de fibras, o que não é saudável.
Em resumo, a relação entre o glúten e a fertilidade é complexa e multifacetada. Para aquelas com doença celíaca ou condições específicas, como a endometriose ou síndrome do anticorpo fosfolípide, a eliminação do glúten da dieta pode trazer benefícios. No entanto, adotar uma dieta isenta de glúten sem a devida orientação médica e sem uma razão clara pode resultar em desequilíbrios nutricionais e não é recomendado. Portanto, é essencial que as mulheres discutam suas preocupações com um profissional de saúde para tomar decisões informadas sobre sua dieta e saúde reprodutiva.