Leite e fertilidade

A relação entre o consumo de leite e a fertilidade tem sido objeto de estudos e debates ao longo dos anos. Uma grande preocupação surgiu devido à presença de hormônios no leite, que levantou a questão de se esses componentes podem comprometer a fertilidade. No entanto, até o momento, não foi encontrada uma conexão clara e definitiva entre o consumo de leite e a fertilidade.

Alguns estudos em animais, como camundongos, sugeriram que a galactose presente no leite poderia diminuir a ovulação e levar à falência ovariana prematura. Além disso, há o potencial de que o leite contenha quantidades significativas de estrogênios ambientais, o que também levantou preocupações.

Em 1994, um estudo ecológico realizado entre 31 países mostrou uma aparente relação entre o consumo de leite e o declínio da fertilidade com a idade. As populações que consumiam mais leite per capita pareciam apresentar um declínio mais acentuado na fertilidade à medida que envelheciam. No entanto, um estudo de caso-controle contraditório encontrou que as mulheres que consumiam três ou mais copos de leite por dia tinham um risco 70% menor de infertilidade em comparação com as que não consumiam leite.

Em um estudo de coorte chamado NHS-II, nenhuma relação clara foi encontrada entre a ingestão total de laticínios e o risco de infertilidade ovulatória. No entanto, alimentos lácteos integrais parecem estar associados a um menor risco de infertilidade ovulatória, enquanto alimentos lácteos com baixo teor de gordura estão ligados a um risco maior. Isso pode ser explicado pelo fato de que produtos lácteos com alto teor de gordura contêm mais estrogênios e contribuem para um aumento moderado na concentração de IGF-I no sangue em comparação com produtos com baixo teor de gordura.

Em relação à fertilização in vitro (FIV), alguns estudos sugerem que as mulheres que consomem mais laticínios têm uma maior chance de levar a gravidez a termo. Surpreendentemente, o teor de gordura do leite não parece influenciar essas taxas.

Além disso, a ingestão de proteína do leite também foi estudada em relação à contagem de folículos antrais (AFC) em mulheres em idade reprodutiva. Foi observado que uma maior ingestão total de proteína do leite estava associada a uma AFC menor. Vários fatores podem contribuir para essa relação, incluindo a presença de hormônios esteróides e fatores de crescimento nos produtos lácteos, bem como a possível contaminação desses produtos com pesticidas e substâncias químicas que afetam a função endócrina e a foliculogênese. Além disso, um aumento na ingestão de laticínios pode resultar em concentrações mais elevadas de IGF-I no sangue, o que também pode ter um impacto negativo na função ovariana e na AFC.

Um estudo comparativo entre coortes de mulheres na Dinamarca e na América do Norte observou uma associação positiva entre o consumo de leite e a fertilidade, independentemente do teor de gordura do leite. A ingestão de lactose também foi associada a uma maior fertilidade nessas coortes de estudo.

No entanto, é importante destacar que os resultados desses estudos são contraditórios, e ainda não existe uma conclusão definitiva sobre a relação entre o consumo de leite e a fertilidade. Portanto, a retirada do leite da dieta de mulheres que estão tentando engravidar não parece ser respaldada por evidências sólidas, e alguns estudos sugerem até benefícios.

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